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A Cidade-fábrica de Rio Tinto

 

A cidade de Rio Tinto, localizada no litoral norte da Paraíba, foi instalada a partir do ano de 1918, quando empresários suecos da família Lundgren adquiram terras e edificaram a fábrica e a cidade em meio a uma área alagadiça, conhecida como Engenho da Preguiça, na qual viviam grupos indígenas Potiguaras, que caçavam, coletavam moluscos e crustáceos, pescavam e plantavam a mandioca. Entre o início da década de 1920 e o final da década de 1940 a cidade-fábrica estava completamente edificada com arruamentos, duas instalações fabris, seis diferentes tipologias de casas para os operários, técnicos e dirigentes, igreja matriz, clubes recreativos, grupo escolar, posto de saúde, hospital, barracão, praça e um cineteatro.

  

Entre o final das décadas de 1950 e 1960 a fábrica teve seus equipamentos renovados, especialmente por meio de incentivos oriundos do programa de reequipamento da indústria têxtil nacional implementado pela SUDENE. Durante a década seguinte, a fábrica de tecidos da Companhia de Tecidos Rio Tinto – CTRT começou a sentir o processo de decadência ocorrido com a indústria têxtil do Nordeste brasileiro, tendo sido desativada no final da década de 1980. Parte dos edifícios que compuseram o complexo industrial da fábrica de Tecidos integra atualmente o Campus IV da Universidade Federal da Paraíba.

 

Rio Tinto é caso típico de cidade industrial cuja instalação é relacionada ao contexto de transposição de tecnologia industrial britânica que havia se tornado obsoleta e pouco lucrativa no espaço europeu. As edificações da cidade foram erguidas segundo padrões construtivos e estilísticos oriundos das cidades fabris inglesas, reconhecidamente herdeiras do denominado estilo manchesteriano, cuja estrutura em cimento armado conjuga paredes, colunas e elementos ornamentais em tijolos aparentes entremeados de uma argamassa fina e branca. As referências ao “padrão britânico manchesteriano”, são encontradas nos estudos publicados em livro organizado por  Amélia Panet (2002), como utilizado pelo Grupo Lundgren na construção de suas fábricas. Estudiosos da arquitetura fabril no Brasil indicam que o “padrão manchesteriano” pode ser caracterizado como de “fachadas erguidas em tijolos aparentes que encobrem estruturas moduladas de concreto armado e/ou estruturas importadas de ferro” (DA COSTA, 2013). 

 

Os detalhes construtivos e ornamentais das edificações, são também identificados aos padrões art déco, reconhecidamente presentes na arquitetura do nordeste brasileiro desse período, especialmente com “fachadas que conciliam tendências ‘art déco’ ou de arquitetura moderna com uma estética industrial despojada” (GUNN; CORREIA, 2002, p.157.). O art déco aparece como estilo recorrente nos edifícios fabris brasileiros, após a década de 1930, caracterizado por plantas flexíveis, estruturas em concreto, geometria simplificada e ornamentos contidos. No caso da cidade-fabril de Rio Tinto, é recorrente o uso de ornamentação realizada com tijolos aparentes, caracterizadas pelo escalonamento e criação de volumes na fachadas e nos interiores das edificações. 

 

Na cidade de Rio Tinto, as edificações de uso institucional, de serviços e as casas destinadas ao uso da família Lundgren foram construídas, assim como as instalações fabris, em tijolos aparentes, cuja aplicação caracteriza-se como forma de distinção da edificação, de seus usuários e moradores. As demais edificações, destinadas a moradia de operários e pequenos comércios foram construídas em alvenaria, com estrutura de madeira e telhados compostos por telhas de barro, produzidas na Olaria Rio Tinto, assim como os tijolos que trazem a marca da olaria, com os quais boa parte da cidade foi edificada. 

 

 

O acervo digital Têxteis Fabris disponibiliza imagens fotográficas das edificações da cidade de Rio Tinto, organizadas em onze coleções denominadas: Praça João Pessoa; Igreja Matriz Santa Rita de Cássia; Cineteatro Orion; Rio Tinto Tênis Clube; Barracão da Fábrica Rio Tinto/Viação; Companhia de Tecidos Rio Tinto- CTRT; Campus IV da UFPB; Posto de Higiene e Hospital de Rio Tinto; Hotel Rio Tinto; Casarão na Praça da Vitória; Casarão/Palacete na Vila Regina.

Praça João Pessoa
Igreja Matriz Santa Rita de Cássia
Cineteatro Orion
Barracão da Fábrica Rio Tinto / Viação
Companhia de Tecidos Rio Tinto
Campus IV da UFPB
Posto de Higiene e Hospital de Rio Tinto
Hotel Rio Tinto
Casarão na Praça da Vitória
Casarão / Palacete na Vila Regina

Referências

 

DA COSTA, Ana Elisia. A poética dos tijolos aparentes e o caráter industrial – MAESA (1945). IV Seminário Docomomo Sul. Porto Alegre, 25 a 27 março 2013. Disponível em: http://www.docomomo.org.br/ivdocomomosul/pdfs/06%20Ana%20Elisia%20Costa.pdf. Acesso em: 15 maio 2015.

GUNN, Philip; CORREIA, Telma. O habitat operário no nordeste industrial: os núcleos fabris de Paulista e Rio Tinto. In: PANET, Amélia; et al. Rio Tinto: estrutura urbana, trabalho e cotidiano. João Pessoa: UNIPÊ editora, 2002, pp.137-161.

MELLO, José Otávio de Arruda. Arqueologia industrial e cotidiano em Rio Tinto. In: PANET, Amélia; et al. Rio Tinto: estrutura urbana, trabalho e cotidiano. João Pessoa: UNIPÊ editora, 2002, pp.65-122.

PANET, Amélia. Rio Tinto: história, arquitetura e configuração espacial. In: PANET, Amélia; et al. Rio Tinto: estrutura urbana, trabalho e cotidiano. João Pessoa: UNIPÊ editora, 2002, pp.17-63.